Mesmo num ano de turbulências econômicas, a cena gastronômica paulistana mostrou sua força com a inauguração de muitos restaurantes bacanas. Depois de doze meses e dezenas de visitas, eis uma seleção do que de melhor surgiu neste 2016. As visitas aos endereços vencedores foram todas anônimas e cada um deles receberá um certificado do prêmio. Divirta-se!
# Huto Izakaya
Não se deixe levar pelo nome izakaya, que remete aos botecos japoneses. Esta casa inaugurada no Campo Belo em janeiro deriva do Huto, endereço em Moema de Fabio Yoshinobu Honda agraciado com uma estrela pelo guia Michelin. Tal como a casa-mãe, o izakaya é moderno, cheio de cifrões e com uma cozinha criativa e disposta a surpreender. As sugestões são todas em tamanho pequeno, já que o propósito provar vários sabores numa única visita – embora isso encareça a conta. Comece com as robatas por unidade, como a de robalo com a aromática folha de shissô (12 reais) e os tentáculos de lula ao molho de maracujá (12 reais). Despontam ainda no menu as vieiras canadenses com foie gras e molho de missô e pimenta tobanjan (38 reais; foto) e os lagostins grelhados servidos sobre creme de cará e molho de páprica (26 reais; foto). Para bebericar, há uma boa seleção de saquês (Hakutsuru Junmai Dry, 26 reais a dose) e cervejas artesanais, caso da deliciosa american pale ale gaúcha Barco San Diego (36 reais; 600 mililitros), de amargor equilibrado e notas cítricas.
Rua Jesuíno Maciel, 682, Campo Belo, tel.: (11) 5041-6809.
# Tan Tan Noodle Bar
De inspiração nova-iorquina, o pequenino noodle bar do chef Thiago Bañares (ex-Arturito e Z Deli) transformou-se num dos endereços-sensação da temporada. A área de espera na calçada foi ampliada, mas mesmo assim o tempo para se conseguir um dos 24 lugares internos passa fácil fácil de 1 hora. Abra o apetite com o guioza de carne suína e nirá (17 reais; 4 unidades) ou com o tentador tebá (15 reais; 3 unidades), asinhas de frango lambuzadas num delicioso molho apimentado agridoce. Dos lámens, o melhor, disparado, é o karê udon (37 reais; foto), que traz uma apetitosa pancetta empanada, ovo cozido a 63 graus, cebolinha e alho tostado. Também convidativa é a carta de coquetéis, a cargo da bartender Priscila Okino. Vale provar o negroni (27 reais) envelhecido em umburana.
Rua Fradique Coutinho, 153, Pinheiros, tel.: (11) 2373-3587.
# Ema (Rua Bela Cintra)
Dona do Marakuthai, a talentosa e empreendedora chef Renata Vanzetto resolveu subir sua aposta no Ema, restaurante que criou como laboratório de investidas criativas na cozinha. Antes na Rua da Consolação e aberto só em três dias da semana, o Ema ganhou em agosto um novo e maior endereço, na Rua Bela Cintra, e agora funciona de 3a-feira a sábado. Instantaneamente concorrido, prepara pratos tão variados quanto visualmente vibrantes. É o caso do arroz de moqueca com lagostim (74 reais) e do polvo com risoto de quinoa, mexilhão, tomate, couve e burrata (97 reais; foto). A costela bovina desfiada é assada por oito horas e servida com purê de mandioquinha mais farofa de biscoito de polvilho e agrião (85 reais). No piso térreo do mesmo imóvel, a chef inaugurou em meados de novembro um já concorrido bar, o Me Gusta.
Rua Bela Cintra, 1551, Jardins, tel.: (11) 98232-7677.
# Tanit
Inaugurado em abril na Rua Oscar Freire, o transado endereço tem como chamariz as ótimas receitas do chef catalão Oscar Bosch. Ele reinterpreta receitas espanholas com um viés moderninho, sem recorrer (ainda bem!) ao hype da cozinha molecular. Para começar, caem bem as cremosas minicroquetas ao bechamel de alho-poró e queijo de cabra (30 reais a porção) e as macias e bem temperadas lulinhas na chapa (36 reais a porção). Dos pratos principais, brilham o arroz del mar (69 reais) — ao estilo de uma paella —, com camarão, mexilhão e lula; e o delicado nhoque de beterraba (50 reais) ao molho do intenso queijo manchego (de ovelha). Também aguça o apetite o leitãozinho crocante com pururuca (68 reais; foto), cozido em baixa temperatura e servido com cenoura assada, purê de cenoura e chutney de repolho-roxo e maçã. Além de vinhos, a seção etílica reserva bons drinques, como o negroni jerez (29 reais), que leva gim, vermute branco, Campari e jerez (a dose, porém, poderia ser mais generosa). Melhores ainda são os gins-tônicas. Mais herbáceo que picante, o chamado spicy (27 reais) vem incrementado com manjericão, alecrim e pimenta-da-jamaica.
Rua Oscar Freire, 145, Jardins, tel.: (11) 3062-6385.
# JoJo Ramen
Rebento da nova geração de casas de lámen em SP, o restaurante inaugurado em maio despontou como um dos melhores do gênero na cidade. Tornou-se fenômeno de público graças às receitas deste prato japonês de origem chinesa, composto de macarrão artesanal mergulhado em caldos temperados e outros acompanhamentos. Para desenvolver a massa e os caldos veio de Tóquio o “ramen master” Takeshi Koitani, que prestou consultoria à casa até outubro. Um dos lámens que valem uma refeição é o ótimo missô jojo (35 reais; foto), que exibe um caldo vigoroso de pasta de soja. Incrementam a receita barriga e lombo de porco grelhados mais alga nori, ovo cozido e um mix de repolho, broto de feijão e nirá (alho japonês). A fila por um dos 42 lugares costuma exigir paciência. Enquanto aguarda seu lugar ao sol, prove o delicioso karaague (15 reais), crocantes pedaços de coxa de frango empanados e um dos poucos itens servidos na espera, que pode chegar a 1h30 nos horários de pico.
Rua Rafael de Barros, 262, Paraíso, tel.: (11) 3279-5005.
# Cozinha 212
Inaugurado em maio no imóvel onde era o extinto Beato, na Rua dos Pinheiros, o Cozinha 212 é prova que a graça de certos restaurantes não se restringe somente à performance da cozinha. Suas receitas preparadas no calor da lenha agradam sem arrebatar, mas o endereço é mais do que isso. Formam o conjunto da obra o ambiente de atmosfera cool; a clientela bonita e descolada que não arreda pé desde a inauguração; a boa coquetelaria e a brigada competente, formada por três colegas que trabalharam no extinto Vito. São eles o mestre-cuca Giovano Rizzo, o gerente de salão Gabriel Silvestre e o bartender Diogo Sevilio, que surpreende a cada visita com drinques como o gim tônica (32 reais) que leva um toque de vodca curtida com beterraba e salmoura de azeitona. Entre as boas pedidas da cozinha estão as lulinhas na chapa com aïoli (28 reais; foto); a língua bovina ao próprio molho (22 reais); o polvo na brasa (48 reais) e o risoto de lula (42 reais) com fatias de caju empanado.
Rua dos Pinheiros, 174, Pinheiros, tel.: (11) 2478-6612.
# Jesuíno Brilhante
Desiludido com a profissão, o jornalista Rodrigo Levino trouxe seu painho e mainha de Caicó, cidade potiguar a 270 quilômetros de Natal, para com eles abrir um dos restaurantes mais simpáticos desta temporada. Aberto só para almoço, o Jesuíno Brilhante empresta o nome de um célebre cangaceiro do Rio Grande do Norte e cativa pela comida caseira e pela deliciosa e autêntica atmosfera nordestina. Tudo é servido em pratos, potinhos e copos de alumínio. O conciso cardápio traz delícias da cozinha sertaneja do Rio Grande do Norte. Cada sugestão dá direito a dois acompanhamentos. Não perca a carne-de-sol desfiada cozida na nata (24 reais; foto), que casa bem com o feijão-de-corda com coentro, cebola e farinha de mandioca e o cuscuz de flocos de milho. Também apetitosa é a paçoca de carne-de-sol (22 reais), ótima dupla para o arroz de leite (arroz vermelho cozido no leite fresco com nata e queijo-de-coalho) e macaxeira cozida. Fique ligado: nos almoços de sábado, dia mais concorrido da semana, a espera por mesa dificilmente é inferior a 1 hora.
Rua Arruda Alvim, 180, Pinheiros, tel.: (11) 2649-3612.
# Casa Ravioli
Dono do Empório Ravioli, na Vila Olímpia, o conhecido chef Roberto Ravioli decidiu reviver o prestigiado ponto onde funcionou o Ravioli Cucina Casalinga. Depois de ficar três anos fechada, a esquina das ruas Sampaio Vidal e Joaquim Antunes ganhou no início de novembro a italiana Casa Ravoli. O ambiente elegante – no qual brilha uma foto do restaurateur beijando os bochechões de Luciano Pavarotti (sim, Ravioli cozinhou para o tenor após um concerto na cidade em 1991) – contrasta com os preços comedidos. O espaguete com almôndegas ao molho de tomate, por exemplo, custa 29 reais. Vale investir um pouco mais para provar o pappardelle ao saboroso ragu de coelho (52 reais), puxado no próprio molho do assado com vinho branco, salsão, cenoura e espinafre, e o filé à parmigiana com batatas (59 reais). Há ainda língua com purê (41 reais), dobradinha com feijão branco, lombo e linguiça (48 reais), ossobuco com polenta cremosa (59 reais)…
R. Joaquim Antunes, 197, Pinheiros, tel.: (11) 3083-1625.
# Teus
Restaurante do momento no Baixo Pinheiros, abriu as portas em outubro comandado por dois sócios que se conheceram e trabalharam juntos no restaurante de Charlô Whately nos Jardins — o chef Chico Farah e Pedro Grando, ex-gerente geral do Bistrô Charlô. Instalada no trecho da Rua Natingui que fica bem atrás da igreja Cruz Torta, o Teus seduz pelo ambiente de estilo rústico-descolado, com uma espaçosa varanda à beira da calçada que tem tudo para bombar no verão. Entre as entradinhas, destacam-se a burrata mineira servida com pão de fermentação natural levemente tostado (25 reais) e uma receita inspirada nos espanhóis huevos rotos con jamón. Nela, um frigideira com batata palha caseira, fininha e crocante, vem coberta por jamón serrano e ovo frito de gema mole (19 reais) — a ideia é misturar tudo antes de comer. Concisa e tentadora, a lista de pratos principais reúne nove sugestões. Duas das melhores receitas são servidas em pratos de pedra sabão, que ajudam a conservar a temperatura. É o caso do franguinho braseado com polenta rústica e quiabo tostado (44 reais) e do arroz de polvo (51 reais; foto), úmido na medida e que leva arroz bomba espanhol.
Rua Natingui, 1548, Pinheiros, tel.: (11) 3031-0654.
# Komah
Num endereço quase solitário, nas franjas na Barra Funda e próximo a Campos Elísios, surgiu em maio o restaurante coreano mais cool da cidade. Foi aberto pelo chef Paulo Shin, filho mais novo de uma família coreana (komah, aliás, significa caçula em coreano). Ex-D.O.M. e Sanpo, o cozinheiro acerta em cheio nas receitas, servidas em ambiente moderninho por atendentes com boa vontade de explicar cada uma das poucas e imperdíveis sugestões. Chama-se yukhoe (39 reais; foto), por exemplo, o steak tartare de carne bovina quase congelada cortada em tiras acompanhado de gema de ovo curada em shoyu e pera asiática (misture tudo antes de comer). Igualmente apetitoso é o samgiopsal (42 reais), que traz pancetta assada glaceada com molho agridoce picante mais gohan (arroz) e folhas orgânicas. Outra tentação é o kimchi bokumbap (39 reais), espécie de mexidão de arroz envolto numa capa crocante e coberto por uma cremosíssima omelete (14 reais). Dica esperta: às 2as, 3as e 4as-feiras é possível provar todo o menu (sete receitas) numa vantajosa degustação, que custa 80 reais por pessoa.
Rua Cônego Vicente Miguel Marino, 378, Barra Funda, tel.: (11) 3569-7956.
# Taverna Grega — O MELHOR BOM & BARATO
Se você circula pelos Jardins e acha o Kouzina um restaurante grego autêntico e barato é porque não conhece a Taverna Grega, a uma quadra dali, na Alameda Ministro Rocha Azevedo. Inaugurada em abril, a casa lembra um botecão heleno adaptado ao Brasil. Tem luz branca, som ambiente de FM, serviço na linha simpático-atrapalhado e muita simplicidade. Duas coisas chamam a atenção ali: os preços pra lá de camaradas e a fidelidade às receitas originais. A equipe de cozinha é formada por imigrantes gregos (um deles, aliás, mal fala português). Sanduíche típico, o gyros (18 reais) vem enrolado no pão pita feito na casa. O melhor deles é o que leva lascas de carnes bovina e suína assadas naquele espeto giratório vertical — o famoso churrasquinho grego — mais cebola crua, tomate, batata frita e um tzatziki delicioso, suavizado no alho para se adaptar ao paladar brasileiro. A casa prepara também um dos melhores mussakás (foto) da cidade. Leva carne moída temperada com canela, anis e outros ingredientes entremeada por berinjela, abobrinha e batata e coberta por um caprichado molho bechamel. Custa 35 reais. Outro prato que surpreende pelo preço é o saboroso espetinho de kebab (18 reais), de carnes bovina e de cordeiro, que vem acompanhado de arroz, saladinha, batata frita e pão pita.
Alameda Ministro Rocha Azevedo, 1057, Jardins, tel.: (11) 3062-3020.