Ontem (22/1) nos deixou não só um dos mais célebres donos de boteco de São Paulo como também uma das pessoas mais apaixonadas por bar que já conheci. Quando não estava atrás do balcão do próprio bar — o Bar do Giba, em Moema —, Gilberto Abrão Turibus estava nos botecos dos amigos ou nos seus prediletos, sempre sorridente e cheio de histórias para contar.

Na minha época de Veja São Paulo, em nome da isenção nas avaliações, os editores da revista proibiam os críticos de ter qualquer tipo de amizade com donos de bar. A regra valeu até conhecer o Giba. Era difícil não se deixar levar pelo seu papo bem humorado e sempre sincerão que rendia horas e horas de boa conversa.
Avesso aos modismos, Giba resolveu apostar num bairro sem tradição em legítimos botequins.
Ex-bancário, foi na fé e na coragem ao transformar um pé-sujo sem personalidade pertinho do Shopping lbirapuera no Bar do Giba, no longíquo ano de 1993.
Colocou mesinhas na calçada, fotos de craques do Santos e de bambas da Portela nas paredes (duas de suas paixões) e passou a servir sensacionais tira-gostos.

Em pouco tempo, transformou a esquina da Avenida Moaci com a Alameda dos Anapurus num dos mais festejados e concorridos botecos de São Paulo.
Para ele, boteco bom tinha que ter alguma doce e discutível idiossincrasia. O Bar do Giba nunca teve cardápio e, por muito tempo, só aceitou dinheiro ou cheque.
Ali, fez muitos clientes felizes com sua deliciosa feijoada, a cervejinha sempre trincando de gelada, o steak tartar preparado à mesa e, claro, os ‘imbatíveis’ pastéis de camarão.
Numa das fotos de maior destaque da decoração do bar, Giba aparece menino, com 10 anos, servindo cerveja ao pai, presságio de que nasceu mesmo para ser dono de botequim. Paulistano de jeito simples e boa-praça, Giba se foi, mas ficará para sempre na memória botequeira paulistana.
Foto do abre: Reprodução da edição Comer & Beber de 2005, da revista VEJA SÃO PAULO
Foto do Giba: Fabio Wright (foto de 21/9/2017)